terça-feira, 6 de abril de 2010

Papa não encobriu o caso Murphy

Por Jesús Colina


Resposta ao caso do sacerdote que abusou de crianças com deficiência auditiva

CIDADE DO VATICANO, quinta-feira, 25 de março de 2010 (ZENIT.org).- “Não houve encobrimento algum”, garante o jornal vaticano em sua resposta a um artigo do New York Times, que tenta envolver a Congregação para a Doutrina da Fé, quando tinha como prefeito o então cardeal Joseph Ratzinger, no gravíssimo caso de um sacerdote americano acusado de abusar sexualmente de crianças com deficiência auditiva.

Trata-se do Pe. Lawrence C. Murphy, responsável por abusos cometidos contra menores de idade em um centro católico especializado, onde ele trabalhou de 1950 a 1974. Este caso, como explica o próprio jornal nova-iorquino, foi apresentado muito depois, em 1996, pela arquidiocese de Milwaukee, à Congregação para a Doutrina da Fé, cujo prefeito era o cardeal Ratzinger e seu secretário era o então arcebispo Tarcisio Bertone, hoje cardeal secretário de Estado.

Como explicou um comunicado do Pe. Federico Lombardi, SJ, diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, a arquidiocese americana não apresentou o caso por denúncias de abusos sexuais do sacerdote – uma questão que, para a justiça americana, havia sido arquivada anos atrás –, e sim pela violação do sacramento da penitência, perpetrada através de solicitações sexuais no confessionário, delito castigado pelo cânon 1387 do Código de Direito Canônico.

“Como se pode deduzir facilmente lendo a reconstrução realizada pelo New York Times sobre o caso do Pe. Murphy, não houve encobrimento algum”, assegura o L’Osservatore Romano na edição de 26 de março.

“Isso se confirma na própria documentação que complementa o artigo do jornal americano – acrescenta o L’Osservatore Romano –, na qual aparece a carta que o Pe. Murphy escreveu em 1998 ao então cardeal Ratzinger, pedindo que a investigação canônica fosse interrompida devido ao seu grave estado de saúde”. De fato, ele faleceu poucos meses depois, em estado de isolamento.

“Também neste caso, a Congregação respondeu, através do arcebispo Bertone, convidando o arcebispo de Milwaukee a aplicar todas as medidas pastorais previstas pelo cânon 1341 do Código, para reparar o escândalo e restabelecer a justiça”, garante o jornal vaticano.

“É importante observar, como declarou o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, que a questão canônica apresentada à Congregação não estava relacionada de forma alguma com um possível procedimento civil ou pena contra o Pe. Murphy, contra quem a arquidiocese já havia empreendido um procedimento canônico, como evidencia a abundante documentação publicada na internet pelo jornal de Nova York”, acrescenta o artigo.

“A pedido do arcebispo, a Congregação respondeu com uma carta assinada pelo então arcebispo Bertone, em 24 de março de 1997, indicando que se procedesse segundo estabelece a Crimen sollicitationis”, carta da Congregação para a Doutrina da Fé sobre os delitos mais graves, revela o jornal da Santa Sé.

L’Osservatore Romano explica quais são os critérios indicados à Igreja pelo cardeal Ratzinger e por Bento XVI para esclarecer os diferentes casos de abusos sexuais cometidos por sacerdotes ou religiosos: “transparência, firmeza e severidade”.

“Uma forma de agir coerente com sua história pessoal e com mais de 20 anos de atividade como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que evidentemente é temida por quem não quer que se afirme a verdade e que preferiria poder manipular, sem nenhum fundamento, episódios horríveis e casos dolorosos que se remontam a décadas”, afirma o jornal vaticano.

O professor Massimo Introvigne, sociólogo e diretor do Centro de Estudos europeu sobre as Novas Religiões, em uma análise compartilhada com a Zenit, constata que os fatos narrados pelo New York Times não são precisos em alguns trechos e inclusive, segundo ele, foram manipulados.

“Para desonrar a pessoa do Santo Padre, agita-se um episódio ocorrido há 35 anos, já conhecido e discutido pela imprensa local na década de 70, cuja gestão – enquanto era da sua competência e 25 anos depois dos fatos – por parte da Congregação para a Doutrina da Fé foi canônica e moralmente impecável, e muito mais severa que a das autoridades estatais americanas.”

“De quantas destas ‘descobertas’ ainda temos necessidade para perceber que o ataque contra o Papa não tem nada a ver com a defesa das vítimas dos casos de pedofilia – certamente graves, inaceitáveis e criminais, como Bento XVI recordou com tanta severidade –, mas que tenta desacreditar um pontífice e uma Igreja que incomodam os lobbies pela sua eficaz ação de defesa da vida e da família?”, pergunta-se o sociólogo.