quarta-feira, 28 de abril de 2010

Uma Carta Aberta a Hans Küng

Em resposta aos pronunciamentos de Küng e de outros soi-disant 'teólogos' que o acompanham.

Em 21 de abril de 2010,

Por George Weigel

Permita-me sugerir que você [Hans Küng] deve ao Papa Bento XVI um pedido público de perdão pelo que, objetivamente falando, é uma calúnia que, assim rezo, tenha sido formada em parte por ignorância (ainda que por ignorância culpável).

Dr. Küng,

Há uma década e meia atrás, um ex-colega seu, um dos mais jovens teólogos progressistas no Vaticano II, contou-me sobre uma advertência amigável que lhe teria feito no começo da segunda sessão do Concílio. Essa pessoa, hoje um eminente catedrático em Sagradas Escrituras e defensor da reconciliação judaico-cristã, lembrava como, naqueles dias conturbados, você o levou para dar uma volta por Roma em um Mercedes vermelho conversível, o qual seu amigo presumiu ter sido um dos frutos do sucesso comercial de seu livro, The Council: Reform and Reunion[i].

Seu colega considerou aquela exibição automotiva um chamariz de atenção imprudente e desnecessário, dado que algumas de suas opiniões mais aventureiras, e seu talento para o que mais tarde seria conhecido como “frases de efeito”, já estavam levantando sobrancelhas e causando frio em espinhas na Cúria Romana. Então, conforme me foi contado, seu amigo o chamou à parte um dia e disse, usando um termo francês que vocês dois entendiam, “Hans, você está ficando muito évident[ii].”

Como alguém que, sozinho, inventou um novo tipo de personalidade global – o teólogo dissidente que se transforma em estrela da mídia internacional – acredito que você não tenha ficado muito incomodado com a advertência de seu amigo. Em 1963, você já estava determinado a traçar um caminho singular para si, e conhecia a mídia suficientemente bem para saber que uma imprensa mundial obcecada com a história peculiar de um teólogo sacerdote dissidente daria a você um megafone para seus pontos de vista. Você deve ter ficado triste com o saudoso João Paulo II por ter tentado desmantelar aquele enredo ao retirar seu mandato eclesiástico para ensinar como professor de teologia católica; sua subsequente acusação rancorosa de uma suposta inferioridade intelectual de Karol Wojtyla, em um volume de suas memórias, tornou-se, até recentemente, o ponto mais baixo de uma carreira polêmica na qual se tornou évident que você é um homem pouco capaz de reconhecer inteligência, decência ou boa vontade em seus oponentes.

Eu digo “até recentemente”, entretanto, porque sua carta aberta aos bispos do mundo, de 16 de abril, que li primeiramente no Irish Times, estabeleceu novos padrões para aquela forma distintiva de ódio conhecida como odium theologicum e para a condenação maldosa de um velho amigo que, ao ser elevado ao papado, foi generoso com você ao encorajar aspectos de seu trabalho atual.

Antes de chegarmos ao assalto à integridade do Papa Bento XVI, entretanto, permita-me observar que seu artigo deixa terrivelmente claro que você não tem prestado muita atenção às questões sobre as quais se pronuncia com um ar de infalibilidade que faria corar as bochechas de Pio IX.

Você parece displicentemente indiferente ao caos doutrinal que cerca a maioria do protestantismo europeu e norte-americano, o qual criou circunstâncias nas quais um diálogo ecumênico teologicamente sério ficou gravemente ameaçado.

Você considera como verdadeiras as acusações mais irracionais feitas a Pio XII, evidentemente sem levar em conta que o recente debate entre os estudiosos está fazendo a balança pender a favor da coragem daquele Papa na defesa dos judeus europeus (independentemente do que se queira pensar a respeito de sua prudência).

Você erra ao representar os efeitos do discurso de Bento XVI em Regensburg, em 2006, rejeitando-o como tendo “caricaturado” o Islã. Na verdade, o discurso em Regensburg focou novamente o diálogo católico-islâmico nas duas questões que precisam ser urgentemente abordadas – a liberdade religiosa como um direito humano fundamental que pode ser conhecido pela razão, e a separação da autoridade religiosa e política no estado do século vinte e um.

Você não mostra qualquer compreensão a respeito do que realmente previne a AIDS na África, e se agarra ao desgastado mito da “superpopulação” em um momento onde as taxas de natalidade estão caindo ao redor do globo e a Europa está entrando em um inverno demográfico criado conscientemente por ela mesma.

Você parece alheio à evidência científica que subscreve a defesa que a Igreja faz do status moral do embrião humano, ao mesmo tempo em que acusa falsamente a Igreja Católica de se opor à pesquisa com células-tronco.

Por que você desconhece essas coisas? Obviamente você é um homem inteligente; você chegou a fazer um trabalho pioneiro em teologia ecumênica. O que aconteceu com você?

O que aconteceu, creio eu, é que você perdeu seus argumentos a respeito do significado e da hermenêutica correta do Vaticano II. Isso explica porque você insiste incansavelmente em sua busca cinquentenária por um catolicismo protestante, precisamente no momento em que o projeto liberal protestante está desmoronando de sua inerente incoerência teológica. E é por isso que agora você se envolveu em uma torpe difamação de outro ex-colega do Vaticano II, Joseph Ratzinger. Antes, porém, de abordar essa difamação, permita-me comentar brevemente sobre a hermenêutica do Concílio.

Ainda que você não seja o expoente mais completo, teologicamente falando, daquilo que Bento XVI chamou de “hermenêutica da ruptura” no discurso à Cúria Romana no Natal de 2005, você é, sem dúvida, o representante de maior visibilidade internacional daquele grupo idoso que continua a insistir em que o período de 1962 a 1965 marcou um caminho sem volta decisivo na história da Igreja Católica: o momento de um novo começo, no qual a Tradição seria destronada de seu lugar de costume como fonte primária de reflexão teológica, sendo substituída por um cristianismo que paulatinamente deixaria “o mundo” estabelecer a agenda da Igreja (como num mote que o Conselho Mundial de Igrejas utilizava na época).

A luta entre essa interpretação do Concílio e aquela defendida por padres conciliares como Ratzinger e Henri de Lubac dividiu o mundo teológico católico pós-conciliar em grupos contendedores representados por duas revistas: a Concilium para você e seus colegas progressistas, e a Communiopara aqueles que vocês continuam a chamar de “reacionários”. O fato de que o projeto Concilium se tornou cada vez mais inviável com o tempo – e que uma geração mais nova de teólogos, especialmente na América do Norte, passou a gravitar na órbita da Communio – não deve ter sido uma experiência feliz para você. E o fato de que o projeto Communio moldou decisivamente as deliberações do Sínodo Extraordinário dos Bispos de 1985, convocado por João Paulo II para celebrar os resultados alcançados pelo Vaticano II e avaliar sua plena implementação no vigésimo aniversário de seu encerramento, deve ter sido outro baque.

Ainda assim arrisco dizer que a espada entrou mesmo em sua alma quando, em 22 de dezembro de 2005, o recém-eleito Papa Bento XVI – o homem cuja indicação para a faculdade teológica de Tübingen você tinha ajudado a conseguir – dirigiu-se à Cúria Romana e sugeriu que a disputa tinha acabado: e que a “hermenêutica conciliar da reforma”, que presumia continuidade com a Grande Tradição da Igreja, tinha prevalecido sobre a “hermenêutica da descontinuidade e da ruptura”.

Talvez, enquanto você e Bento XVI bebiam cerveja em Castel Gandolfo no verão de 2005, você de alguma forma tenha imaginado que Ratzinger tinha mudado de idéia nessa questão central. Obviamente ele não tinha. Por que você chegou a imaginar que ele poderia aceitar sua visão sobre o que significaria uma “constante renovação da Igreja”, francamente, é um mistério. Também sua análise sobre a situação católica contemporânea não se tornou nem um pouco mais plausível quando se lê, mais adiante em seu recente artigo, que os papas recentes têm sido “autocratas” em relação aos bispos; de novo, é de se pensar se você tem prestado atenção suficientemente. Pois parece evidente e claro que Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI têm sido dolorosamente relutantes – alguns diriam, desafortunadamente relutantes – em disciplinar bispos que se mostram incompetentes ou com má conduta e que por isso perderam a capacidade de ensinar e de liderar: uma situação que muitos de nós esperam que mude, e mude logo, à luz das recentes controvérsias.

De certa forma, naturalmente, nenhuma de suas reclamações sobre a vida católica pós-conciliar é nova. Entretanto, parece mesmo muito contraditório, para alguém que realmente se importa com o futuro da Igreja Católica como uma testemunha da verdade de Deus para a salvação do mundo, insistir no ponto a que você persistentemente nos insta: que um catolicismo credível percorra o mesmo caminho traçado nas décadas recentes por várias comunidades protestantes que, conscientemente ou não, seguiram uma ou outra versão de seus conselhos para adotar uma hermenêutica de ruptura com a Grande Tradição Cristã. A propósito, essa é a singular posição que você ocupou desde que um de seus colegas se preocupou em você estar muito évident; e já que essa posição lhe manteve évident, pelo menos nas colunas de jornais que compartilham sua visão sobre a tradição católica, imagino ser demais esperar que você mude, ou mesmo aperfeiçoe, seus pontos de vista, mesmo se cada pedacinho de evidência empírica à disposição sugerir que o caminho que você propõe é o caminho da decadência para as igrejas.

O que pode ser esperado, em vez disso, é que você se comporte com um mínimo de integridade e decência nas controvérsias nas quais se envolve. Entendo o odium theologicum tão bem quanto qualquer um, mas tenho de, com toda a franqueza, dizer-lhe que em seu recente artigo você cruzou uma linha que não devia ser ultrapassada, quando escreveu:

“Não há como negar o fato de o sistema de ocultamento posto em prática em todo o mundo diante dos crimes sexuais dos clérigos ter sido engendrado pela Congregação para a Doutrina da Fé romana sob o cardeal Ratzinger (1981-2005)”.

Isso, senhor, não é verdade. Recuso-me a acreditar que você sabia que isso era falso e mesmo assim o tenha escrito, pois isso significaria que você conscientemente se condenou como um mentiroso. Mas assumindo que você não sabia que esta sentença era um punhado de mentiras, então você é tão notoriamente ignorante a respeito de como a competência por casos de abuso eram designadas na Cúria Romanaantes de Ratzinger ter tomado o controle do processo e trazido o mesmo para competência da CDF em 2001, que perdeu toda a possibilidade de ser levado a sério a respeito deste ou de qualquer outro assunto que envolva a Cúria Romana e o governo central da Igreja Católica.

Como talvez você não saiba, tenho sido um crítico vigoroso e, assim espero, responsável a respeito de como casos de abuso foram (mal) conduzidos por bispos e autoridades na Cúria até o fim da década de 1990, quando o então Cardeal Ratzinger começou a lutar por uma mudança significativa no tratamento desses casos. (Se estiver interessado, consulte meu livro de 2002, The Courage To Be Catholic: Crisis, Reform, and the Future of the Church[iii].)

Por isso, falo com algum conhecimento de causa quando digo que sua descrição a respeito do papel de Ratzinger, conforme citado acima, não é apenas burlesca para quem quer que esteja familiarizado com a história, mas contradita pela experiência de bispos americanos que sempre viram em Ratzinger alguém cuidadoso, disposto a ajudar e profundamente preocupado com a corrupção do sacerdócio por uma pequena minoria de abusadores, e ao mesmo tempo aflito com a incompetência e má conduta de bispos que levaram a sério, mais do que deviam, as promessas da psicoterapia ou que não tiveram a hombridade de confrontar o que tinha de ser confrontado.

Sei que não são os autores que redigem os subtítulos, algumas vezes horríveis, que são colocados em colunas de jornal. Apesar disso, você foi o autor de uma peça tão ácida – em si mesma completamente inapropriada para um sacerdote, um intelectual, ou um cavalheiro – que permitiu que os editores do Irish Times resumissem seu artigo da seguinte forma: “O Papa Bento piorou tudo o que já era errado na Igreja Católica e é diretamente responsável por engendrar o ocultamento global do estupro de crianças perpetrado por sacerdotes, de acordo com esta carta aberta a todos os bispos católicos.” Essa falsificação grotesca da verdade demonstra aonde o odium theologicum pode levar um homem. Mas de qualquer forma isso é vergonhoso.

Permita-me sugerir que você deve ao Papa Bento XVI um pedido público de perdão pelo que, objetivamente falando, é uma calúnia que, assim rezo, tenha sido formada em parte por ignorância (ainda que por ignorância culpável). Garanto-lhe que sou a favor de uma profunda reforma na Cúria Romana e no episcopado, projetos que descrevo até certo ponto no livro God´s Choice: Pope Benedict XVI and the Future of the Catholic Church[iv], uma cópia do qual, em alemão, ficarei feliz em enviar-lhe. Masnão há caminho para a verdadeira reforma na Igreja que não passe pelo íngreme e estreito vale da verdade. A verdade foi trucidada em seu artigo no Irish Times. E isto significa que você atrapalhou a causa da reforma.

Com a garantia de minhas orações,

George Weigel

George Weigel é Membro Sênior do Centro de Ética e Política Pública de Washington, onde ocupa a cadeira William E. Simon em estudos católicos.

Artigo original em inglês disponível em: First Things

Traduzido por Fabiano Rollim

[i] N. do T.:“ O Concílio: Reforma e Reunião” – livro não publicado no Brasil.

[ii] N. do T.: Évident: aparente, evidente, notável.

[iii] N. do T.: “A Coragem de Ser Católico: Crise, Reforma e o Futuro da Igreja” – livro não publicado no Brasil.

[iv] N. do T.: “A Escolha de Deus: O Papa Bento XVI e o Futuro da Igreja Católica” – livro não publicado no Brasil.

Escândalos de Pedofilia: A guerra subliminar entre o laicismo e o Cristianismo

Por Marcelo Pera

É incrível que sobretudo a Alemanha, que bate continuamente no peito pela memória desse preço que infligiu a toda a Europa, se esqueça dele, hoje que é democrática, recusando-se a compreender que, destruído o cristianismo, é a própria democracia que se perde. No passado, a destruição da religião comportou a destruição da razão; hoje, não conduz ao triunfo da razão laica, mas a uma segunda barbárie.

A questão dos sacerdotes pedófilos ou homossexuais, que rebentou recentemente na Alemanha, tem como alvo o Papa. E, dadas asenormidades temerárias da imprensa, cometeria um grave erro quem pensasse que o golpe não acertou no alvo – e um erro ainda mais grave quem pensasse que a questão morreria depressa, como morreram tantas questões parecidas. Não é isso que se passa. Está em curso uma guerra.

Não propriamente contra a pessoa do Papa porque, neste terreno, tal guerra é impossível: Bento XVI tornou-se inexpugnável pela sua imagem, pela sua serenidade, pela sua limpidez, firmeza e doutrina; só aquele sorriso manso basta para desbaratar um exército de adversários. Não, a guerra é entre o laicismo e o cristianismo.

Os laicistas sabem perfeitamente que, se aquela batina branca fosse tocada, sequer, por uma pontinha de lama, toda a Igreja ficaria suja, e se a Igreja ficasse suja, suja ficaria igualmente a religião cristã. Foi por isso que os laicistas acompanharam esta campanha com palavras de ordem do tipo: «Quem voltará a mandar os filhos à igreja?», ou «Quem voltará a meter os filhos numa escola católica?», ou ainda: «Quem internará os filhos num hospital ou numa clínica católica?»

Há uns dias, uma laicista deixou escapar uma observação reveladora: «A relevância das revelações dos abusos sexuais de crianças por parte de sacerdotes mina a própria legitimação da Igreja Católica como garantia da educação dos mais novos.»

Pouco importa que semelhante sentença seja desprovida de qualquer base de prova, porque a mesma aparece cuidadosamente latente: «A relevância das revelações»; quantos são os sacerdotes pedófilos? 1%? 10%? Todos? Pouco importa também que a sentença seja completamente ilógica; bastaria substituir «sacerdotes» por «professores», ou por «políticos», ou por «jornalistas» para se «minar a legitimação» da escola pública, do parlamento, ou da imprensa.

Aquilo que importa é a insinuação, mesmo que feita à custa de um argumento grosseiro: os sacerdotes são pedófilos, portanto a Igreja não tem autoridade moral, portanto a educação católica é perigosa, portanto o cristianismo é um engano e um perigo. Esta guerra do laicismo contra o cristianismo é uma guerra campal; é preciso recuar ao nazismo e ao comunismo para se encontrar outra igual. Mudam os meios, mas o fim é o mesmo: hoje, como ontem, aquilo que se pretende é a destruição da religião. Ora, a Europa pagou esta fúria destrutiva ao preço da própria liberdade.

É incrível que sobretudo a Alemanha, que bate continuamente no peito pela memória desse preço que infligiu a toda a Europa, se esqueça dele, hoje que é democrática, recusando-se a compreender que, destruído o cristianismo, é a própria democracia que se perde. No passado, a destruição da religião comportou a destruição da razão; hoje, não conduz ao triunfo da razão laica, mas a uma segunda barbárie.

No plano ético, é a barbárie de quem mata um feto por ser prejudicial à «saúde psíquica» da mãe. De quem diz que um embrião é uma «bola de células», boa para fazer experiências. De quem mata um velho porque este já não tem família que cuide dele. De quem apressa o fim de um filho, porque este deixou de estar consciente e tem uma doença incurável. De quem pensa que progenitor «A» e progenitor «B» é o mesmo que «pai» e «mãe». De quem julga que a fé é como o cóccix, um órgão que deixou de participar na evolução, porque o homem deixou de precisar de cauda. E por aí fora…

Ou então, e considerando agora o lado político da guerra do laicismo contra o cristianismo, a barbárie será a destruição da Europa. Porque, eliminado o cristianismo, restará o multiculturalismo, de acordo com o qual todos os grupos têm direito à sua cultura. O relativismo, que pensa que todas as culturas são igualmente boas. O pacifismo, que nega a existência do mal.

Mas esta guerra contra o cristianismo seria menos perigosa se os cristãos a compreendessem; pelo contrário, muitos deles não percebem o que se está a passar. São os teólogos que se sentem frustrados com a supremacia intelectual de Bento XVI. Os bispos indecisos, que consideram que o compromisso com a modernidade é a melhor maneira de atualizar a mensagem cristã.

Os cardeais em crise de fé, que começam a insinuar que o celibato dos sacerdotes não é um dogma, e que talvez fosse melhor repensar essa questão. Os intelectuais católicos que acham que a Igreja tem um problema com o feminismo e que o cristianismo tem um diferendo por resolver com a sexualidade. As conferências episcopais que se enganam na ordem do dia e, enquanto auguram uma política de fronteiras abertas a todos, não têm a coragem de denunciar as agressões de que os cristãos são alvo, bem como a humilhação que são obrigados a suportar por serem colocados, todos sem descriminação, no banco dos réus. Ou ainda os chanceleres vindos do Leste, que exibem um ministro dos negócios estrangeiros homossexual, ao mesmo tempo que atacam o Papa com argumentos éticos; e os nascidos no Ocidente, que acham que este deve ser laico, que o mesmo é dizer anti-cristão.

A guerra dos laicistas vai continuar, quanto mais não seja porque um Papa como Bento XVI sorri, mas não recua um milímetro. Mas aqueles que compreendem esta intransigência papal têm de agarrar na situação com as duas mãos, não ficando de braços cruzados à espera do próximo golpe. Quem se limita a solidarizar-se com ele, ou entrou no horto das oliveiras de noite e às escondidas, ou então não percebeu o que está ali a fazer.

Publicado no Corriere della Sera

Caridades cristãs

Por João Pereira Coutinho

É por isso paradoxal e bizarro o comportamento das patrulhas anticatólicas, que revelam ser o contrário daquilo que professam. Elas dizem-se “libertas” da influência apostólica romana. Mas, por palavras ou atos, limitam-se a manifestar uma obsessão com o papa que nem o mais católico dos católicos consegue exibir. 

Existe neste mundo um tema que é polêmica garantida: o papa. Na semana passada, num jantar, descobri o fenômeno e testemunhei uma violência inesperada. Alguém falou da visita de Bento XVI a Portugal no próximo mês. Houve indignações e desmaios à mesa. Como explicar estas reações hormonais que me espantam e divertem?

Bento XVI não é um papa qualquer, admito. Se tivesse nascido num país do Terceiro Mundo; se viesse da ala esquerda da igreja; se promovesse os temas progressistas do momento (preservativo, ordenação de mulheres, fim do celibato), talvez as reações não fossem tão extremas.

Acontece que Joseph Ratzinger é alemão. É um respeitado intelectual europeu, mesmo por pensadores seculares (como Habermas). E, em matéria de ortodoxia, foi o presidente da Congregação para a Doutrina da Fé, órgão máximo do Vaticano que defende e promove a doutrina da igreja, antes de chegar à cadeira pontifical. Será preciso dizer mais?

Alguns críticos lembram ainda os “abusos sexuais” que assolaram a instituição. Lamento desapontá-los.

A hostilidade a este papa já existia antes dos abusos. Sobreviverá a eles. Até porque os abusos existem em todas as denominações religiosas e ninguém fala do assunto. A hostilidade só tem um sentido. Um curioso sentido.

Digo “curioso” pelo motivo mais prosaico: a Igreja Católica fala para o seu rebanho. E, ao contrário de outros movimentos religiosos extremistas, não está interessada em submeter os infiéis pela força da espada. Roma evangeliza quem se deseja evangelizar.

E mesmo a sua doutrina sexual, que tanto encarniça os espíritos sofisticados, é um exemplo de modernidade e até de tolerância quando a comparamos com preceitos de outros credos. Condenar a camisinha é uma coisa. Outra, bem pior, é condenar a camisinha, apedrejar mulheres adúlteras ou enforcar homossexuais ladinos. Como sucede noutras latitudes.

Mas o circo não para. No Reino Unido, o Ministério de Relações Exteriores viu-se obrigado a pedir desculpas ao Vaticano. Conta o “Sunday Telegraph” que funcionários da instituição, instados a sugerir ideias para a visita do papa ao país (em setembro), propuseram em memorando interno uma linha de camisinhas com a marca Ratzinger; a abertura de uma clínica antiaborto; e, fatal como o destino, uma bênção papal de um casamento gay. O Vaticano pondera agora cancelar a visita.

E se assim foi na Grã-Bretanha, assim será em Portugal: informa a imprensa lusa que o papa não terá descanso quando aterrar em Lisboa. Por onde passar, existirão manifestações contra Bento XVI, e grupos de jovens a distribuir preservativos e folhetins científicos sobre o perigo da AIDS.

Que dizer destes atos? Descontando a natureza infantil dessa gente, que estranhamente ainda não abandonou a idiotia própria da adolescência, o que existe nesses atos é uma paradoxal e assaz bizarra submissão à autoridade da igreja. Explico. Para um não católico, a igreja será apenas uma instituição entre várias, que legitimamente fala para quem a quiser ouvir. Um não católico não lhe reconhece autoridade especial; e não perde um minuto do seu precioso e laico tempo a tentar corrigir uma instituição a que não pertence.

E, em matéria sexual, estamos conversados: o que a igreja diz sobre a conduta privada dos seres humanos terá para um não católico a mesma importância que as recomendações da religião islâmica, ou judaica, ou hindu. Importância nenhuma.

É por isso paradoxal e bizarro o comportamento das patrulhas anticatólicas, que revelam ser o contrário daquilo que professam. Elas dizem-se “libertas” da influência apostólica romana. Mas, por palavras ou atos, limitam-se a manifestar uma obsessão com o papa que nem o mais católico dos católicos consegue exibir. Elas querem “resgatar” a sociedade da influência nociva da igreja. Mas são elas próprias que ainda se sentem “sequestradas” por uma instituição à qual reconhecem total ascendência sobre as suas vidas. As patrulhas, sem o papa, simplesmente não conseguiriam viver.

Por isso proponho: por cada camisinha distribuída durante as andanças de Bento XVI, alguém deveria dar um abraço compassivo aos fanáticos, aliviando o sofrimento deles e deixando uma palavra de conforto. “Fica tranquilo, rapaz; é só o papa.” A caridade cristã existe para estes momentos.

Publicado na Folha de São Paulo.
Retirado de http://www.padredemetrio.com.br/

terça-feira, 20 de abril de 2010

sábado, 17 de abril de 2010

É arriscado escrever sobre estas coisas. Não estão na moda

Por José Manuel Fernandes

Bento XVI é parte da solução, e não parte do problema, na crise que os casos de pedofilia abriram na Igreja Católica



Não sou crente. Educado na fé católica, passei pelo ateísmo militante e hoje defino-me como agnóstico. Talvez não devesse, por isso, pôr-me a discutir os chamados "escândalos de pedofilia" na Igreja Católica. Até porque não sei se, como escreveu António Marujo neste jornal - no texto mais informado publicado sobre o tema em jornais portugueses -, estamos ou não perante "A maior crise da Igreja Católica dos últimos 100 anos".

Tendo porém a concordar com um outro agnóstico, Marcello Pera, filósofo e membro do Senado italiano, que escreveu no Corriere della Sera que se, sob o comunismo e o nazismo, "a destruição da religião comportou a destruição da razão", a guerra hoje aberta visa de novo a destruição da religião e isso "não significará o triunfo da razão laica, mas uma nova barbárie". Por isso acho importante contrariar muitas das ideias feitas que têm marcado um debate inquinado por muita informação errada ou manipulada.

Vale por isso a pena começar por tentar saber se o problema da pedofilia e dos abusos sexuais - um problema cuja gravidade ninguém contesta, ocorram num colégio católico, na Casa Pia ou na residência de um embaixador - tem uma incidência especial em instituições da Igreja Católica. Os dados disponíveis não indicam que tenha: de acordo com os dados recolhidos por Thomas Plante, professor nas universidades de Stanford e Santa Clara, a ocorrência de relações sexuais com menores de 18 anos entre o clero do sexo masculino é, em proporção, metade da registada entre os homens adultos. É mesmo assim um crime imenso, pois não deveria existir um só caso, mas permite perceber que o problema não só não é mais frequente nas instituições católicas, como até é menos comum. Tem é muito mais visibilidade ao atingir instituições católicas.

Uma segunda questão muito discutida é a de saber se existe uma relação entre o celibato e a ocorrência de abusos sexuais. Também aqui não só a evidência é a contrária - a esmagadora maioria dos abusos é praticada por familiares próximos das vítimas - como o tema do celibato é, antes do mais, um tema da Igreja e de quem o escolhe. Não existiu sempre como norma na Igreja de Roma e hoje esta aceita excepções (no clero do Oriente e entre os anglicanos convertidos). Pode ser que a norma mude um dia, mas provavelmente ninguém melhor do que o actual Papa para avaliar se esse momento é chegado - até porque talvez ninguém, no seio da Igreja Católica, tenha dedicado tanta atenção ao tema dos abusos sexuais e feito mudar tanta coisa como Bento XVI.

Se algo choca na forma como têm vindo a ser noticiados estes "escândalos" é o modo como, incluindo no New York Times, se tem procurado atingir o Papa. Não tenho espaço, nem é relevante para esta discussão, para explicar as múltiplas deturpações e/ou omissões que têm permitido dirigir as setas das críticas contra Bento XVI, mas não posso deixar de recordar o que ele, primeiro como cardeal Ratzinger e prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, depois como sucessor de João Paulo II, já fez neste domínio.

Até ao final do século XX o Vaticano não tinha qualquer responsabilidade no julgamento e punição dos padres acusados de abusos sexuais (e não apenas de pedofilia). A partir de 2001, por influência de Ratzinger, o Papa João Paulo II assinou um decreto - Motu proprio Sacramentorum Sanctitatis Tutela - de acordo com o qual todos os casos detectados passaram a ter de ser comunicados à Congregação para a Doutrina da Fé. Ratzinger enfrentou então muitas oposições, pois passou a tratar de forma muito mais expedita casos que, de acordo com instruções datadas de 1962, exigiam processos muito morosos. A nova política da Congregação para a Doutrina da Fé passou a ser a de considerar que era mais importante agir rapidamente do que preservar os formalismos legais da Igreja, o que lhe permitiu encerrar administrativamente 60 por cento dos casos e adoptar uma linha de "tolerância zero".

Depois, mal foi eleito Papa, Bento XVI continuou a agir com rapidez e, entre as suas primeiras decisões, há que assinalar a tomada de medidas disciplinares contra dois altos responsáveis que, há décadas, as conseguiam iludir por terem "protectores" nas altas esferas do Vaticano. A seguir escolheu os Estados Unidos - um dos países onde os casos de abusos cometidos por padres haviam atingido maiores proporções - para uma das suas primeiras deslocações ao estrangeiro e, aí (tal como, depois, na Austrália), tornou-se no primeiro chefe da Igreja de Roma a receber pessoalmente vítimas de abusos sexuais. Nessa visita não evitou o tema e referiu-se-lhe cinco vezes nas suas diferentes orações e discursos.

Agora, na carta que escreveu aos cristãos irlandeses, não só não se limitou a pedir perdão, como definiu claramente o comportamento dos abusadores como "um crime" e não apenas como "um pecado", ao contrário do que alguns têm escrito por Portugal. Ao aceitar a resignação do máximo responsável pela Igreja da Irlanda também deu outro importante sinal: a dureza com que o antigo responsável pela Congregação para a Doutrina da Fé passou a tratar os abusadores tem agora correspondência na dureza com que o Papa trata a hierarquia que não soube tratar do problema e pôr cobro aos crimes.

De facto - e este aspecto é muito importante - a ocorrência destes casos de abusos sexuais obriga à tomada de medidas pelos diferentes episcopados. Quando isso acontece, a situação muda radicalmente. Nos Estados Unidos, país onde primeiro se conheceu a dimensão do problema, a Conferência de Dallas de 2002 adoptou uma "Carta para a Protecção de Menores de Abuso Sexual" que levaria à expulsão de 700 padres. No Reino Unido, na sequência do Relatório Nolan (2001), acabou-se de vez com a prática de tratar estes assuntos apenas no interior da Igreja, passando a ser obrigatório dar deles conta às autoridades judiciais. A partir de então, como notava esta semana, no The Times, William Rees-Mogg, a Igreja de Inglaterra e de Gales "optou pela reforma, pela abertura e pela perseguição dos abusadores em vez de persistir no segredo, na ocultação e na transferência de paróquia dos incriminados".

Bento XVI, que não despertou para este problema nas últimas semanas, não deverá precipitar decisões por causa desta polémica. No passado domingo, durante as cerimónias do Domingo de Ramos, pediu aos crentes para não se deixarem intimidar pelos "murmúrios da opinião dominante", e é natural que o tenha feito: se a Igreja tivesse deixado que a sua vida bimilenar fosse guiada pelo sentido volátil dos ventos há muito que teria desaparecido.

Ao mesmo tempo, como assinalava John L. Allen, jornalista do National Catholic Reporter, em coluna de opinião no New York Times, "para todos os que conhecem a experiência recente do Vaticano nesta matéria, Bento XVI não é parte do problema, antes poderá ser boa parte da solução".

Uma demonstração disso mesmo pode ser encontrada na sua primeira encíclica, Deus Caritas Est, de 25 de Dezembro de 2005, ano em que foi eleito. Boa parte dela ocupa-se da reconciliação, digamos assim, entre as concepções de "eros", o termo grego para êxtase sexual, e de "ágape", a palavra que o cristianismo adoptou para designar o amor entre homem e mulher. Se, como referia António Marujo na sua análise, o teólogo Hans Küng considera que existe uma "relação crispada" entre catolicismo e sexualidade, essa encíclica, ao recuperar o valor do "eros", mostra que Bento XVI conhece o mundo que pisa.

Por isso eu, que nem sou crente, fui informar-me sobre os casos e sobre a doutrina e escrevi este texto que, nos dias inflamados que correm, se arrisca a atrair muita pedrada. Ela que venha.


Publicado no ‘Público’, jornal português, na edição de 2 de Abril de 2010


terça-feira, 13 de abril de 2010

Muito mais que pedofilia

Card. Odilo Pedro Scherer


As notícias tristes desses dias ajudarão a Igreja a se purificar e a ficar muito mais atenta à formação do seu clero. Esta orientação foi dada há mais tempo pelo papa Bento XVI, quando ainda era Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Por isso mesmo, considero inaceitável e injusto que se pretenda agora responsabilizar pessoalmente o papa pelo que acontece. Além de ser ridículo e fora da realidade, é uma forma oportunista de jogar no descrédito toda a Igreja católica. Deve responder pelos seus atos perante Deus e a sociedade quem os praticou. Como disse S.Paulo: Examine-se cada um a si mesmo. E quem estiver de pé, cuide para não cair!


As notícias sobre pedofilia, envolvendo membros do clero, difundiram-se de modo insistente. Tristes fatos, infelizmente, existiram no passado e existem no presente; não preciso discorrer sobre as cenas escabrosas de Arapiraca... A Igreja vive dias difíceis, em que aparece exposto o seu lado humano mais frágil e necessitado de conversão. De Jesus aprendemos: “Ai daqueles que escandalizam um desses pequeninos!” E de S.Paulo ouvimos: “Não foi isso que aprendestes de Cristo”.

As palavras dirigidas pelo papa Bento XVI aos católicos da Irlanda servem também para os católicos do Brasil e de qualquer outro país, especialmente aquelas dirigidas às vítimas de abusos e aos seus abusadores. Dizer que é lamentável, deplorável, vergonhoso, é pouco! Em nenhum catecismo, livro de orientação religiosa, moral ou comportamental da Igreja isso jamais foi aprovado ou ensinado! Além do dano causado às vítimas, é imenso o dano à própria Igreja.

O mundo tem razão de esperar da Igreja notícias melhores: Dos padres, religiosos e de todos os cristãos, conforme a recomendação de Jesus a seus discípulos: “Brilhe a vossa luz diante dos homens, para que eles, vendo vossas boas obras, glorifiquem o Pai que está nos céus!” Inútil, divagar com teorias doutas sobre as influências da mentalidade moral permissiva sobre os comportamentos individuais, até em ambientes eclesiásticos; talvez conseguiríamos compreender melhor por que as coisas acontecem, mas ainda nada teríamos mudado.

Há quem logo tem a solução, sempre pronta à espera de aplicação: É só acabar com o celibato dos padres, que tudo se resolve! Ora, será que o problema tem a ver somente com celibatários? E ficaria bem jogar nos braços da mulher um homem com taras desenfreadas, que também para os casados fazem desonra? Mulher nenhuma merece isso! E ninguém creia que esse seja um problema somente de padres: A maioria absoluta dos abusos sexuais de crianças acontece debaixo do teto familiar e no círculo do parentesco. O problema é bem mais amplo!

Ouso recordar algo que pode escandalizar a alguns até mais que a própria pedofilia: É preciso valorizar novamente os mandamentos da Lei de Deus, que recomendam atitudes e comportamentos castos, de acordo com o próprio estado de vida. Não me refiro a tabus ou repressões “castradoras”, mas apenas a comportamentos dignos e respeitosos em relação à sexualidade. Tanto em relação aos outros, como a si próprio. Que outra solução teríamos? Talvez o vale tudo e o “libera geral”, aceitando e até recomendando como “normais” comportamentos aberrantes e inomináveis, como esses que agora se condenam?

As notícias tristes desses dias ajudarão a Igreja a se purificar e a ficar muito mais atenta à formação do seu clero. Esta orientação foi dada há mais tempo pelo papa Bento XVI, quando ainda era Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Por isso mesmo, considero inaceitável e injusto que se pretenda agora responsabilizar pessoalmente o papa pelo que acontece. Além de ser ridículo e fora da realidade, é uma forma oportunista de jogar no descrédito toda a Igreja católica. Deve responder pelos seus atos perante Deus e a sociedade quem os praticou. Como disse S.Paulo: Examine-se cada um a si mesmo. E quem estiver de pé, cuide para não cair!

A Igreja é como um grande corpo; quando um membro está doente, todo o corpo sofre. O bom é que os membros sadios, graças a Deus, são a imensa maioria! Também do clero! Por isso, ela será capaz de se refazer dos seus males, para dedicar o melhor de suas energias à Boa Notícia: para confortar os doentes, visitar os presos nas cadeias, dar atenção aos abandonados nas ruas e debaixo dos viadutos; para ser solidária com os pobres das periferias urbanas, das favelas e cortiços; ela continuará ao lado dos drogados e das vítimas do comércio de morte, dos aidéticos e de todo tipo de chagados; e continuará a acolher nos Cotolengos criaturas rejeitadas pelos “controles de qualidade” estéticos aplicados ao ser humano; a suscitar pessoas, como Dom Luciano e Dra. Zilda Arns, para dedicarem a vida ao cuidado de crianças e adolescentes em situação de risco; e, a exemplo de Madre Teresa de Calcutá, ainda irá recolher nos lixões pessoas caídas e rejeitadas, para lavar suas feridas e permitir-lhes morrer com dignidade, sobre um lençol limpo, cercadas de carinho. Continuará a mover milhares de iniciativas de solidariedade em momentos de catástrofes, como no Haiti; a estar com os índios e camponeses desprotegidos, mesmo quando também seus padres e freiras acabam assassinados.

E continuará a clamar por justiça social, a denunciar o egoísmo que se fecha às necessidades do próximo; ainda defenderá a dignidade do ser humano contra toda forma de desrespeito e agressão; e não deixará de afirmar que o aborto intencional é um ato imoral, como o assassinato, a matança nas guerras, os atentados e genocídios. E sempre anunciará que a dignidade humana também requer comportamentos dignos e conformes à natureza, também na esfera sexual; e que a Lei de Deus não foi abolida, pois está gravada de maneira indelével na coração e na consciência de cada um.

Mas ela o fará com toda humildade, falando em primeiro lugar para si mesma, bem sabendo que é santa pelo Santo que a habita, e pecadora em cada um de seus membros; todos são chamados à conversão constante e à santidade de vida. Não falará a partir de seus próprios méritos, consciente de trazer um tesouro em vasos de barro; mas, consciente também de que, apesar do barro, o tesouro é precioso; e quer compartilhá-lo com toda a humanidade. Esta é sua fraqueza e sua grandeza!


Publicado em: http://www.cnbb.org.br/site/artigos-dos-bispos/cardeal-odilo-pedro-scherer/2901-muito-mais-que-pedofilia

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Abuso de menores: a resposta da Igreja

Quem visitar a página da Santa Sé verá que foi posto em evidência um link intitulado "Abuso de menores: a resposta da Igreja". Clique aqui para ir direto à página, ou aqui para visitar a página principal da Santa Sé, em português. Há bons documentos lá, que merecem ser lidos.

Desfazendo mitos sobre pedofilia envolvendo sacerdotes

Publicado em http://blog.cancaonova.com/felipeaquino


Revista Crisis Magazine


1- É provável que os padres católicos sejam mais pedófilos do que qualquer outro grupo masculino.

Isto é simplesmente falso. Não existe absolutamente nenhuma evidência de que haja mais probabilidade de padres violentarem as crianças do que qualquer outro grupo de homens. O uso e abuso de crianças como objeto de satisfação sexual de adultos é uma epidemia que atinge todas as classes, profissões, religiões e comunidades étnicas espalhadas pelo mundo todo, como indicam claramente as estatísticas em pornografia infantil, incesto e prostituição infantil.

A pedofilia (o abuso sexual de uma criança pré-adolescente) entre os padres é extremamente rara, afetando 0,3% de todo o clero. Este número, citado no livro “Pedófilos e Padres” (Pedhofiles and Priests) do escritor não-católico Philip Jenkins, vem do estudo mais completo feito até hoje que descobriu que 2.252 padres pesquisados durante um período de 30 anos apresentavam sintomas de serem atormentados pela pedofilia.

No escândalo recente de Boston, quatro dos mais de 80 padres acusados pela mídia de “pedófilos” são na verdade culpados de molestar crianças pequenas.

A Pedofilia é um tipo particular de doença compulsiva sexual na qual um adulto (homem ou mulher) abusa de uma criança pré-adolescente.

A grande maioria dos escândalos de abuso sexual no clero que agora vêm a tona não envolvem pedofilia. Pelo contrário, eles envolvem efebofilia – atração homossexual a meninos adolescentes. Mas mesmo que o número total de violentadores sexuais no sacerdócio seja maior do que os culpados de pedofilia, este número é menor do que 2% – quando comparado com os entre os homens casados (Jenkins, “Pedophiles and Priests”).

Em vista da crise atual na Igreja, outras denominações religiosas e instituições não-religiosas admitiram ter problemas parecidos tanto com pedofilia como com efebofilia entre os níveis de seu clero. Não existe nenhuma evidência de que seja mais provável os prelados católicos serem pedófilos do que os ministros protestantes, líderes judeus, médicos, ou qualquer outra instituição na qual os adultos estejam numa posição de autoridade e poder sobre as crianças.

2- O celibato dos padres os leva à pedofilia.

O celibato não tem nenhuma relação de causa com nenhum tipo de vício sexual, incluindo a pedofilia. Na verdade, homens casados são tão suscetíveis à violência sexual de crianças como os padres celibatários (Jenkins, “Priests and Pedophilia”). Na população em geral, a maioria dos violentadores são homens heterossexuais reprimidos que violentam sexualmente meninas. Também se encontram mulheres entre os violentadores sexuais.

Mesmo sendo difícil obter estatísticas precisas sobre abuso sexual infantil, os padrões característicos do violentador sexual em série de crianças tem sido bem explicados. Os perfis do molestador de crianças jamais incluiu adultos normais que são atraídos eroticamente pelas crianças como resultado de abstinência. (Fred Berlin, “Compulsive Sexual Behaviors” in Addiction and Compulsion Behaviors [Boston: NCBC, 1998], Patrick J. Carnes, “Sexual Compulsion: Challenge for Church Leaders” in Addiction and Compulsion; O’Leary, “Homosexuality and Abuse”).

3- O casamento do clero faria a pedofilia e outras formas de má-conduta sexual desaparecer.

Algumas pessoas – incluindo alguns católicos dissidentes – estão explorando esta crise para atrair a atenção do público para suas causas próprias. Alguns estão exigindo a condição de casamento para o clero católico em resposta ao escândalo, como se o casamento fosse fazer com que os homens parassem de machucar as crianças. Isto vai de cara com a estatística mencionada acima de que os homens casados são tão suscetíveis a abusar de crianças quanto qualquer celibatário. (Jenkins, “Pedophilia and Priests”). Já que nem o fato de ser católico nem o de ser celibatário predispõe uma pessoa a desenvolver pedofilia, o casamento do clero não resolveria o problema (“Doctors call for pedophilia research”, The Hartford Courante, March 23). Basta olhar para crises parecidas em outras denominações e profissões para ver isto. É fato concreto que jamais se soube que homens heterossexuais física e psicologicamente saudáveis tenham desenvolvido atrações eróticas por crianças como resultado de abstinência sexual.

4- Celibato do Clero foi uma invenção medieval.

Errado. Na Igreja Católica Ocidental, o celibato se tornou uma prática universal no século IV, a começar com a adoção de Santo Agostinho pela disciplina monástica para todos os seus sacerdotes. Além das várias razões práticas para esta disciplina – presumia-se que ela desencorajava o nepotismo – o estilo de vida celibatário fazia com que os padres fossem mais independentes e disponíveis. Este ideal também sensibilizou os padres diocesanos para que vivenciassem o mesmo testemunho de seus irmãos de vida monástica. A Igreja não mudou suas diretrizes sobre o celibato, porque através dos séculos ela percebeu o valor prático e espiritual deste costume (Pope Paulo VI, “On the Celibacy of the Priesthood”, Encyclical letter, 1967). De fato, até mesmo na Igreja Católica de Rito Oriental – que aceita padres casados – os bispos são escolhidos somente entre os padres solteiros. Cristo revelou o significado e o valor verdadeiro do celibato. Os padres católicos desde São Paulo até hoje imitam-no na auto-doação total a Deus e aos outros como celibatários. Embora Cristo tenha elevado o casamento ao plano de um sacramento que revela o amor e a vida da Trindade, Ele também era testemunha viva da vida no mundo que a de vir. O sacerdócio celibatário é para nós uma testemunha viva para esta vida na qual a unidade e a alegria do casamento entre um homem e uma mulher é superada na comunhão amorosa perfeita entre homem e Deus. O celibato devidamente compreendido e vivido libera a pessoa para amar e servir os outros como Cristo fez. Durante os últimos quarenta anos, o celibato tem sido uma testemunha ainda mais poderosa para o sacrifício de homens e mulheres que se oferecem a serviço de suas comunidades.

5- Sacerdócio Feminino ajudaria a resolver o problema.

Não existe simplesmente nenhuma conecção lógica entre o comportamento anormal de uma pequena minoria de padres e a inclusão de mulheres em sua classe. Mesmo sendo verdade que a maioria das estatísticas sobre molestação de crianças mostre que existe uma probabilidade maior de homens violentarem crianças, o fato é que algumas mulheres também são molestadoras. Em 1994, o Centro Nacional de Pesquisa de Opinião (National Opinion Research Center) mostrou que a segunda forma mais comum de abuso sexual de crianças envolviam mulheres violentando meninos. Para cada três violentadores masculinos, havia uma violentadora. Contudo, as estatísticas sobre infratoras sexuais são mais difíceis de se obter porque o crime é mais encoberto (Interview with Dr. Richard Cross, “A Question of Character”, National Opinion Research Center; cf. Carnes). Também, a maioria de suas vítima (meninos) tem menos probabilidade de denunciar o abuso sexual que as meninas, especialmente quando o infrator é uma mulher (O’Leary, “Child Sexual Abuse”). Existem razões do porquê a Igreja não pode ordenar mulheres (conforme o Papa João Paulo II explicou várias vezes). Mas isto está além do problema.

O debate sobre a ordenação de mulheres não tem absolutamente nenhuma relação com o problema da pedofilia e outras formas de má conduta sexual.

6- A Homossexualidade não está conectada com a pedofilia.

Isto é totalmente falso. Os homossexuais têm uma probabilidade três vezes maior de serem pedófilos do que os heterossexuais. Enquanto a pedofilia exclusiva (atração de um adulto por uma criança pré-adolescente do sexo oposto) seja um fenômeno extremo, um terço dos homens homossexuais sentem atração por meninos adolescentes (Jenkins, “Priests and Pedophilia”). A sedução de um menino adolescente por um homem homossexual é um fenômeno bem documentado. Esta forma de comportamento anormal é o tipo mais comum de abuso clerical e está diretamente conectado com o comportamento homossexual. Como mostra Michael Rose no seu livro “Goodbye! Good Men”, existe uma certa sub-cultura homossexual dentro da Igreja. Isto se deve a vários fatores. A confusão da Igreja no início da revolução sexual dos anos 60, o tumulto subseqüente ao Concílio Vaticano II, e a maior aprovação do comportamento homossexual em geral pela sociedade criou um ambiente que fez com que homens homossexuais ativos que aceitaram o celibato fossem admitidos e tolerados no sacerdócio. A Igreja também passou a se apoiar em profissões psiquiátricas para examinar candidatos e para tratar aqueles padres identificados como problemáticos. Em 1973, a Associação Americana de Psicologia (American Psychological Association) mudou a caracterização de homossexualidade para a orientação objetivamente desordenada e removeu-a do Manual de Diagnóstico e Estatística (Diagnostic and Statistic Manual IV (Nicolosi, J., 1991, “Reparative Therapy of Male Homosexuality”, 1991; Diamond, E., et al., “Homosexuality and Hope”, unpublished CMA document)). O tratamento dos comportamentos sexuais anormais seguiram o mesmo processo. Contudo, mesmo que o comportamento da Igreja para com aqueles que lutavam contra as atrações homossexuais seja compassivo, ela tem sido consistente em manter a visão de que a homossexualidade é objetivamente desordenada e que o casamento entre um homem e uma mulher é o contexto apropriado para a atividade sexual. Atualmente tem havido maiores esforços da Igreja em não concordar que homens com indícios de homossexualidade sejam aceitos para o sacerdócio.

7- A hierarquia católica não fez nada para abordar a pedofilia.
Esta acusação, mesmo não sendo percebida, é falsa. Quando o código de Direito Canônico da Igreja foi revisado em 1983, uma passagem importante foi adicionada: “O clérigo que comete qualquer ofensa contra o sexto preceito do Decálogo (sexto mandamento), principalmente se a ofensa foi cometida com violência ou ameaças, publicamente ou com um menor de 16 anos (agora extendido para 18 anos), deve ser punido com punições justas, não excluindo a expulsão do estado clerical” (1395:2). Mas certamente esta não é a única coisa que a Igreja fez. Os bispos, a começar pelo Papa Paulo VI, em 1967, publicaram uma advertência aos fiéis católicos sobre as conseqüências negativas da revolução sexual. A encíclica do papa, “Sobre o Celibato dos Sacerdotes”, abordou a questão do celibato sacerdotal em face a uma cultura que clamava por uma “liberdade” sexual maior. O papa confirmou o celibato mesmo quando chamou os bispos a serem responsáveis por “colegas padres perturbados por dificuldades que colocavam seriamente em perigo o dom divino que possuíam”. Ele aconselhou os bispos a procurarem ajuda apropriada para estes padres, ou, em casos graves, a dispensarem os padres que não pudessem ser ajudados. Além disso, ele os pressionou para serem mais prudentes aos julgarem a aptidão de candidatos para o sacerdócio. Em 1975, a Igreja lançou outro documento chamado “Declaração sobre Alguns Pontos de Ética Sexual” (Joseph Ratzinger) que abordou explicitamente, entre outras questões, o problema da homossexualidade entre os padres. Ambos os documentos de 1967 e 1975 abordaram os tipos de anormalidade sexual, incluindo a pedofilia e a efebofilia, que são especialmente prevalescentes entre os homossexuais. Em 1994, o Comitê Ad Hoc sobre Abuso Sexual publicou as diretrizes para as 191 dioceses do país na época para ajudá-las a desenvolver políticas para lidar com o problema do abuso sexual de menores. Quase todas as dioceses responderam e desenvolveram suas políticas próprias (documento da USCCB: “Guidelines for dealing with Child Sexual Abuse”, 1993-1994). Nesta época, a pedofilia foi reconhecida como uma doença que não podia ser curada, e um problema que estava se tornando mais prevalescente devido ao aumento da pornografia, sobretudo infantil. Antes de 1994, os bispos pegaram a deixa dos especialistas em psiquiatria que acreditavam que a pedofilia podia ser tratada com sucesso. Os padres culpados de abuso sexual eram mandados para uma das várias clínicas de tratamento espalhadas pelos Estados Unidos. Os bispos confiavam com freqüência na opinião dos especialistas para determinar se os padres estavam aptos para o ministério. Isto não diminuiu a negligência da parte de alguns membros da hierarquia, mas dá uma idéia sobre o caso. Em resposta aos escândalos recentes, algumas dioceses estão cirando comissões especiais em abuso infantil, bem como grupos de defesa das vítimas; e estão reconhecendo oficialmente que qualquer alegação legítima de abuso deve ser tratada imediatamente.

8– O problema real é a doutrina da Igreja sobre Moralidade Sexual, não a pedofilia.

A doutrina da Igreja sobre moralidade sexual está enraizada na dignidade da pessoa humana e no bem da sexualidade humana. Esta doutrina condena o abuso sexual de crianças em todas as suas formas, da mesma forma que condena outros crimes sexuais repreensíveis como o estupro, incesto, pornografia e prostituição, infantil e adulta. Em outras palavras, se esta doutrina fosse vivenciada, não existiria o problema da pedofilia. A noção de que esta doutrina de alguma forma leve à pedofilia é baseada num engano ou numa má-interpretação deliberada da moralidade sexual católica. A Igreja, fundamentada na Palavra, reconhece que a atividade sexual sem o amor e o compromisso encontrado unicamente no matrimônio abala a dignidade da pessoa humana e é por fim destrutivo. Com relação ao celibato, séculos de experiência provaram que homens e mulheres podem se abster de atos sexuais quando vivem uma vida plena, saudável e profunda.

9- Os jornalistas católicos têm ignorado o problema da pedofilia.

Esta afirmação é completamente falsa. Nossa reportagem de capa de outubro de 2001 apresentava “THE PRICE OF PRIESTLY PEDERASTY”, uma exposição sobre o escândalo que só explodiria na mídia três meses depois. E nós não fomos os únicos a cobrir o problema da pedofilia/pederastia. Charles Sennot, autor do “Broken Covenant”, Rod Dreher da “The National Review”, Ralph MacInercy co-fundador da CRISIS, Maggie Gallagher, Dale O’Leary, a Catholic Medical Association, Michael Novak, Peggy Noonan, Bill Donohue, Dr. Richard Cross, Philip Lawler, Alan Keyes e o Monsenhor George Kelly, todos abordaram a questão com exaustão. Só porque a mídia popular escolheu ignorar nosso trabalho não quer dizer que o trabalho não tenha sido feito.

10- A exigência do celibato limita o número de homens candidatos ao sacerdócio, resultando num alto número de padres com sexualidade desequilibrada.

Primeiramente, não existe um “alto número de padres com sexualidade desequilibrada”. Existe sim uma ênfase maliciosa e direcionada da mídia mundial sensacionalista, na exígua minoria(fala-se de 2% no máximo) de clérigos indignos. A grande maioria de padres são normais, saudáveis e fiéis. Todo dia eles se mostram merecedores de crédito e confiança por parte daqueles confiados aos seus cuidados.

Em segundo lugar, aqueles que não sentem vocação para a vida celibatária não são chamados ipso facto a serem padres católicos. Na verdade, a maioria dos homens não estão destinados ao celibato. Contudo, alguns estão – e destes alguns são chamados por Deus para o sacerdócio.
A vocação sacerdotal, assim como o matrimônio, exige o consentimento livre e mútuo de ambas as partes. Assim, a Igreja deve discernir se um candidato é de fato merecedor e apto mental, física e espiritualmente ao compromisso de uma vida de serviço sacerdotal. O desejo do candidato para o sacerdócio não constitui uma vocação em si mesmo e por si só. Os diretores espirituais e vocacionais hoje estão afinados com as falhas de caráter que tornam um candidato desqualificado.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

A Igreja é contigo, doce Cristo na terra!

Palavras do Cardeal Angelo Sodano dirigidas ao Santo Padre, o Papa Bento XVI, no Domingo de Páscoa de 2010





A liturgia da Igreja convida-nos a uma santa alegria. Mesmo se cai a chuva nesta histórica praça, o sol resplandece nos nossos corações. Nós nos unimos a Vossa Santidade, rocha indefectível da santa Igreja de Cristo. A Vossa Santidade somos profundamente gratos por sua fortaleza de ânimo e pela coragem apostólica. Nós admiramos o seu grande amor e o modo como, com coração de pai, faz suas as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens, atualmente sobretudo dos pobres e dos sofredores.

Hoje, através de mim, toda a Igreja deseja augurar-lhe boa Páscoa. A Igreja está com Vossa Santidade, os cardeais, os seus colaboradores da Cúria romana, os irmãos bispos espalhados pelo mundo.

Particularmente com Vossa Santidade nestes dias estão os 400 mil sacerdotes que servem o Povo de Deus nas paróquias, nos oratórios, nas escolas, nos hospitais, nas forças armadas e nos numerosos outros ambientes, como também nas missões nas mais remotas partes do mundo.

Com Vossa Santidade está todo o Povo de Deus, que não se deixa impressionar por mexericos do momento e pelas provas que de vez em quando atingem a comunidade dos crentes.

Jesus havia dito: “No mundo tereis tribulações; mas tende coragem: eu venci o mundo!”

Padre Santo, nós procuraremos guardar suas palavras nesta Solenidade pascal e rezaremos por Vossa Santidade, para que o Senhor continue a sustentá-lo na sua missão a serviço da Igreja e do próprio mundo!

Feliz Páscoa, Padre Santo! A Igreja é contigo, doce Cristo na terra!

Senador Arthur Virgílio e o aborto

Por João Paulo R. Naegele


Caros,

Aconteceu, no dia de 8 de Abril, uma audiência pública no Senado Federal para debater temas relacionados ao nefasto PNDH-3.

Nesta ocasião, o Sen. Arthur Virgílio (PSDB-AM), manifestou-se da seguinte forma:

Sou católico, mas defendo a legalização do aborto."

Não podemos aceitar que uma frase como essa seja dita.

Escrevi, então, um pequeno texto (abaixo transcrito) com o intuito de dar início a uma onda de emails contra este posicionamento. Convido-os a copiá-lo e direcioná-lo ao email do senador.

O texto é propositadamente curto e alerta para o descrédito eleitoral, grande temor dos políticos.

Proponho esta ação como modo fácil e rápido de lutarmos pela preservação dos valores cristãos em nosso país.

O email do senador: arthur.virgilio@senador.gov.br

Eis o texto:


Senador Arthur Virgílio,

Diante da manifestação de V. Exª, proferida na audiência pública ocorrida no dia 8 de Abril, em que diz ser católico e, ao mesmo tempo, favorável à descriminalização do aborto, venho informá-lo que, em razão de tamanha contradição, não contará com o meu voto em nenhuma das eleições em que doravante V. Exª tomar parte.

Os candidatos apoiados por V. Exª e aqueles que se manifestarem no mesmo sentido receberão o mesmo tratamento de minha parte.

Atenciosamente. 



Contando com o apoio e a divulgação de todos,
João Paulo R. Naegele

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Meu Bento XVI

Por Dom Henrique Soares da Costa


E aí está Bento XVI: amado por seu rebanho e por tantas pessoas de boa vontade, pela gente simples, cristã, de DNA católico; homem profundo, mergulhado em Cristo, nele alicerçado; homem doce e ao mesmo tempo tão firme; homem que não tem medo de proclamar a verdade, sem gritar, sem impor, mas sem jamais escondê-la: mostra-a inteira, límpida, serena, cortante, libertadora!


Nunca escondi meu profundo amor por Joseph Ratzinger. É antigo: desde 1981. Em novembro daquele ano, seminarista em férias, li um texto seu. Lá havia uma frase do então Cardeal Arcebispo de Munique: “Ninguém é maduro de verdade até que tenha enfrentado sua própria solidão!” Meus olhos marejaram (como marejam agora, neste momento). Pensei: quem afirma isto só pode ser um homem de verdade, só pode ser alguém que tem uma profunda experiência de Cristo! Eis aqui um homem de Igreja que continuou homem, com um coração, com sensibilidade, com retidão!

Um ano depois, dei com uma entrevista do Cardeal, agora nomeado Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Ele afirmava: “O primeiro dever do Bispo é defender a fé dos pequenos contra a prepotência de alguns teólogos...” Vibrei de alegria! O homem era realmente católico em cada fibra: sabia que a fé supera a razão e que o Mistério não se apreende em profundidade a não ser de joelhos e bebendo a límpida fé da Mãe Igreja, fé que se manifesta sobretudo nos pequenos, nos simples, no Povo de Deus em seu dia-a-dia.

Ratzinger tornou-se para mim uma referência. Doíam-me tanto as calúnias contra ele, as afirmações de muitos adeptos da Teologia da Libertação, que deformavam a imagem e o pensamento do Cardeal de modo vergonhosamente desonesto. Lembro-me das declarações pervertidas de Leonardo Boff e companhia a respeito do Cardeal Prefeito que, generosamente, ajudara ao próprio Boff nos tempos de estudo na Alemanha... Aqui no Brasil, as editoras católicas o censuravam metodicamente... Se algum seu escrito perdido aparecia, era dos menos expressivos e importantes... A imprensa só falava do Cardeal para criticá-lo, insuflada por certos setores da Igreja no nosso País...

A coisa intensificou-se quando da doença de João Paulo II. Agora era preciso queimar de vez o Cardeal da Inquisição, o Desumano, o Ditador... Foi uma pesada campanha dentro e fora da Igreja, sobretudo nos Estados Unidos e na Europa... As pessoas nunca leram nada de Ratzinger, mas o antipatizavam de todo o coração. Recordo do conhecido jornalista Alexandre Garcia, que confessou ter comprado livros de Ratzinger e lido seus textos. Tomou um susto: o homem que escrevera aquelas coisas não era nada daquele monstro que diziam... Eis: o preconceito, filho da ignorância e irmão da má-fé!

E veio o Conclave. Aquele que no céu tem o seu trono riu-se dos planos dos homens e zombou dos grandes e sabidos deste mundo. Ratzinger tornou-se Bento XVI! Ouvi entrevistas, vi matérias na imprensa nacional e internacional simplesmente vergonhosas, vi entrevistas de teólogos – recordo de um da PUC de São Paulo à TV alemã – simplesmente revoltantes: mentirosas, desonestas, caluniadoras, sem caridade...

E aí está Bento XVI: amado por seu rebanho e por tantas pessoas de boa vontade, pela gente simples, cristã, de DNA católico; homem profundo, mergulhado em Cristo, nele alicerçado; homem doce e ao mesmo tempo tão firme; homem que não tem medo de proclamar a verdade, sem gritar, sem impor, mas sem jamais escondê-la: mostra-a inteira, límpida, serena, cortante, libertadora!

No tocante à vida moral do clero, menos de um mês antes de ser eleito Papa, na via-sacra do Coliseu, afirmou sem meias palavras, desgostando a muita gente: “E que dizer da terceira queda de Jesus sob o peso da cruz? Pode talvez fazer-nos pensar na queda do homem em geral, no afastamento de muitos de Cristo, caminhando à deriva para um secularismo sem Deus. Mas não deveríamos pensar também em tudo quanto Cristo tem sofrido na sua própria Igreja? Quantas vezes se abusa do Santíssimo Sacramento da sua presença, frequentemente como está vazio e ruim o coração onde Ele entra! Tantas vezes celebramos apenas nós próprios, sem nos darmos conta sequer d’Ele! Quantas vezes se distorce e abusa da sua Palavra! Quão pouca fé existe em tantas teorias, quantas palavras vazias! Quanta sujeira há na Igreja, e precisamente entre aqueles que, no sacerdócio, deveriam pertencer completamente a Ele! Quanta soberba, quanta autossuficiência! Respeitamos tão pouco o sacramento da reconciliação, onde Ele está à nossa espera para nos levantar das nossas quedas! Tudo isto está presente na sua paixão. A traição dos discípulos, a recepção indigna do seu Corpo e do seu Sangue é certamente o maior sofrimento do Redentor, o que Lhe trespassa o coração. Nada mais podemos fazer que dirigir-Lhe, do mais fundo da alma, este grito: Kyrie, eleison – Senhor, salvai-nos (cf. Mt 8, 25)".

Um homem assim não passa despercebido: ou é amado ou profundamente odiado! E há muitos que odeiam este santo e bendito Papa! Foi ele que, logo ao assumir, suspendeu o Padre Marcial Maciel, sacerdote famoso e muito apreciado por João Paulo II (o Papa João Paulo desconfiava muitíssimo de acusações na área de pedofilia, porque os comunistas poloneses utilizavam muitas acusações falsas como modo de desmoralizar o clero polaco. Isto criou em João Paulo II uma tendência a não dar muito crédito às acusações. Sempre que via um padre zeloso ser acusado, a tendência era logo recordar as mentiras dos comunistas poloneses... daí, a lentidão do processo do Pe. Macial. Foi um erro compreensível, mas um erro). Bento XVI não! Suspendeu o Pe. Maciel e determinou que vivesse seu fim de vida de modo recluso e sem contato algum com os fieis, numa vida de oração e penitência. O mesmo com o conhecidíssimo italiano Pe. Luigi (Gino) Burresi. Sua punição foi severíssima. Aos Bispos sempre recomendou tolerância zero com a pedofilia. Em seus pronunciamentos sobre o tema, nunca, Papa algum foi tão direto, claro e radical: na Igreja não há lugar para pedófilos. Os pedófilos devem ser demitidos do estado clerical e os Bispos devem comunicar à justiça comum! Tanto que em seu pontificado os casos de pedofilia desabaram...

Mas, nada disso interessa à imprensa, sobretudo aos jornais anticatólicos como New York Times, La Repubblica, El País, Spiegel... Para estes não interessa a verdade: interessam os fatos distorcidos, as meia verdades que, somadas, dão uma enorme mentira, uma triste difamação, uma calúnia monstruosa... O mesmo fizeram com Pio XII... Qual o objetivo? Desautorizar um Papa incômodo, cuja única preocupação é testemunhar o Cristo com toda a inteireza da fé católica. E nada é tão incômodo e antipático quanto isto! Por isso mesmo, tudo quanto este Papa diga ou faça é distorcido, deformado e, depois, duramente criticado, até ao paroxismo...

Mas, Bento XVI seguirá seu caminho! No meu primeiro encontro com ele como Bispo novo com o Sucessor de Pedro, disse-lhe: “Santo Padre, o Povo de Deus lhe quer bem! Nós rezamos por Vossa Santidade, nós estaremos sempre ao lado de Vossa Santidade!” Ele sorriu aquele sorriso tímido, mas tão humilde e franco e disse: “Obrigado! Muito obrigado! Eu preciso tanto do vosso sustento!” Só quem não o conhece poderia pensar que ele se dobra! Ninguém é tão perigosamente livre, é tão docemente forte quanto o homem que fez de Cristo o seu refúgio, a sua luz, a sua certeza! Bento XVI – santo Bento XVI, bendito Bento XVI! – é assim.

Hoje, 29 anos depois daquele 1981, quando, de coração apertado, imagino a dor e a solidão deste homem de Deus, consolo-me pensando no gigante que ele é e vem-me forte, mansa, decidida, certa, a sua palavra: “Ninguém é maduro de verdade até que tenha enfrentado sua própria solidão!” Bento XVI é maduro, Bento XVI não tem medo da própria solidão, pois ela é toda povoada por Cristo!

Deus o abençoe sempre, Padre Santo! Deus o abençoe e o livre das mãos de seus ferozes e maldosos inimigos!

Fonte: http://costa_hs.blog.uol.com.br/arch2010-03-21_2010-03-27.html

Cem anos de pedofilia

Por Olavo de Carvalho


Abaixo, segue um texto antigo do filósofo Olavo de Carvalho. Mesmo sendo de 2002, o artigo é ainda muito pertinente.

Não tenham dúvida: a Igreja é acusada e humilhada porque está inocente. Seus detratores a acusam porque são eles próprios os culpados. Nunca a teoria de René Girard, da perseguição ao bode expiatório como expediente para a restauração da unidade ilusória de uma coletividade em crise, encontrou confirmação tão patente, tão óbvia, tão universal e simultânea.

Na Grécia e no Império Romano, o uso de menores para a satisfação sexual de adultos foi um costume tolerado e até prezado. Na China, castrar meninos para vendê-los a ricos pederastas foi um comércio legítimo durante milênios. No mundo islâmico, a rígida moral que ordena as relações entre homens e mulheres foi não raro compensada pela tolerância para com a pedofilia homossexual. Em alguns países isso durou até pelo menos o começo do século XX, fazendo da Argélia, por exemplo, um jardim das delícias para os viajantes depravados (leiam as memórias de André Gide, “Si le grain ne meurt”).

Por toda parte onde a prática da pedofilia recuou, foi a influência do cristianismo — e praticamente ela só — que libertou as crianças desse jugo temível.

Mas isso teve um preço. É como se uma corrente subterrânea de ódio e ressentimento atravessasse dois milênios de história, aguardando o momento da vingança. Esse momento chegou.

O movimento de indução à pedofilia começa quando Sigmund Freud cria uma versão caricaturalmente erotizada dos primeiros anos da vida humana, versão que com a maior facilidade é absorvida pela cultura do século. Desde então a vida familiar surge cada vez mais, no imaginário ocidental, como uma panela-de-pressão de desejos recalcados. No cinema e na literatura, as crianças parecem que nada mais têm a fazer do que espionar a vida sexual de seus pais pelo buraco da fechadura ou entregar-se elas próprias aos mais assombrosos jogos eróticos.

O potencial politicamente explosivo da idéia é logo aproveitado por Wilhelm Reich, psiquiatra comunista que organiza na Alemanha um movimento pela “libertação sexual da juventude”, depois transferido para os EUA, onde virá a constituir talvez a principal idéia-força das rebeliões de estudantes na década de 60.

Enquanto isso, o Relatório Kinsey, que hoje sabemos ter sido uma fraude em toda a linha, demole a imagem de respeitabilidade dos pais, mostrando-os às novas gerações como hipócritas sexualmente doentes ou libertinos enrustidos.

O advento da pílula e da camisinha, que os governos passam a distribuir alegremente nas escolas, soa como o toque de liberação geral do erotismo infanto-juvenil. Desde então a erotização da infância e da adolescência se expande dos círculos acadêmicos e literários para a cultura das classes média e baixa, por meio de uma infinidade de filmes, programas de TV, “grupos de encontro”, cursos de aconselhamento familiar, anúncios, o diabo. A educação sexual nas escolas torna-se uma indução direta de crianças e jovens à prática de tudo o que viram no cinema e na TV.

Mas até aí a legitimação da pedofilia aparece apenas insinuada, de contrabando no meio de reivindicações gerais que a envolvem como conseqüência implícita.

Em 1981, no entanto, a “Time” noticia que argumentos pró-pedofilia estão ganhando popularidade entre conselheiros sexuais. Larry Constantine, um terapeuta de família, proclama que as crianças “têm o direito de expressar-se sexualmente, o que significa que podem ter ou não ter contatos sexuais com pessoas mais velhas”. Um dos autores do Relatório Kinsey, Wardell Pomeroy, pontifica que o incesto “pode às vezes ser benéfico”.

A pretexto de combater a discriminação, representantes do movimento gay são autorizados a ensinar nas escolas infantis os benefícios da prática homossexual. Quem quer que se oponha a eles é estigmatizado, perseguido, demitido. Num livro elogiado por J. Elders, ex-ministro da Saúde dos EUA (surgeon general — aquele mesmo que faz advertências apocalípticas contra os cigarros), a jornalista Judith Levine afirma que os pedófilos são inofensivos e que a relação sexual de um menino com um sacerdote pode ser até uma coisa benéfica. Perigosos mesmo, diz Levine, são os pais, que projetam “seus medos e seu próprio desejo de carne infantil no mítico molestador de crianças”.

Organizações feministas ajudam a desarmar as crianças contra os pedófilos e armá-las contra a família, divulgando a teoria monstruosa de um psiquiatra argentino segundo a qual pelo menos uma entre cada quatro meninas é estuprada pelo próprio pai.

A consagração mais alta da pedofilia vem num número de 1998 do “Psychological Bulletin”, órgão da American Psychological Association. A revista afirma que abusos sexuais na infância “não causam dano intenso de maneira pervasiva”, e ainda recomenda que o termo pedofilia, “carregado de conotações negativas”, seja trocado para “intimidade intergeracional”.

Seria impensável que tão vasta revolução mental, alastrando-se por toda a sociedade, poupasse miraculosamente uma parte especial do público: os padres e seminaristas. No caso destes somou-se à pressão de fora um estímulo especial, bem calculado para agir desde dentro. Num livro recente, “Goodbye, good men”, o repórter americano Michael S. Rose mostra que há três décadas organizações gays dos EUA vêm colocando gente sua nos departamentos de psicologia dos seminários para dificultar a entrada de postulantes vocacionalmente dotados e forçar o ingresso maciço de homossexuais no clero. Nos principais seminários a propaganda do homossexualismo tornou-se ostensiva e estudantes heterossexuais foram forçados por seus superiores a submeter-se a condutas homossexuais.

Acuados e sabotados, confundidos e induzidos, é fatal mais dia menos dia muitos padres e seminaristas acabem cedendo à geral gandaia infanto-juvenil. E, quando isso acontece, todos os porta-vozes da moderna cultura “liberada”, todo o establishment “progressista”, toda a mídia “avançada”, todas as forças, enfim, que ao longo de cem anos foram despojando as crianças da aura protetora do cristianismo para entregá-las à cobiça de adultos perversos, repentinamente se rejubilam, porque encontraram um inocente sobre o qual lançar suas culpas. Cem anos de cultura pedófila, de repente, estão absolvidos, limpos, resgatados ante o Altíssimo: o único culpado de tudo é... o celibato clerical! A cristandade vai agora pagar por todo o mal que ela os impediu de fazer.

Não tenham dúvida: a Igreja é acusada e humilhada porque está inocente. Seus detratores a acusam porque são eles próprios os culpados. Nunca a teoria de René Girard, da perseguição ao bode expiatório como expediente para a restauração da unidade ilusória de uma coletividade em crise, encontrou confirmação tão patente, tão óbvia, tão universal e simultânea.

Quem quer que não perceba isso, neste momento, está divorciado da sua própria consciência. Tem olhos mas não vê, tem ouvidos mas não ouve.

Originalmente publicado em:
http://www.olavodecarvalho.org/semana/04272002globo.htm

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Ataques ao Papa Bento seguem agenda sexista e hedonista, diz jornal russo não católico



.- Um recente editorial do jornal Pravda.ru, escrito originalmente em português pelo repórter português Artur Rosa Teixeira, explica que a atual campanha mediática difamatória contra o Papa Bento XVI e a Igreja pretende desacreditar a Igreja para poder seguir obtendo benefícios econômicos, através da imposição de uma ideologia que não considera a natureza espiritual do ser humano mas que enxerga tudo desde uma perspectiva sexista e hedonista.

No texto Texeira comenta que estas agressões tomam "um caso isolado, preferivelmente complicado, e o generalizam para induzir ao leitor a pensar que todo o corpo é a mesma natureza".

"Esta generalização obviamente tem conotações ideológicas e segue uma agenda política que procura desconstruir a sociedade tradicional e suas instituições seculares assim como impor uma nova ordem mundial com a maneira dos sinistros interesses da oligarquia internacional, os mesmos que dirigem os mercados financeiros e, através deles, controlam amplamente a economia mundial".

"De fato –prossegue– os recentes informes de pedofilia que envolvem sacerdotes carecem da ética jornalística requerida, sem importar sua gravidade moral. Esse tipo de notícias geram suspeita sobre sua ‘bondade’ inclusive em não-católicos como nós".

Seguidamente o editorial reconhece o aporte católico à civilização ocidental e explica que ao fazer esta apologia não estão defendendo a pedofilia de alguns sacerdotes, que sempre deve ser condenada; e adverte também sobre a "bondade" de muitas notícias que "concentram-se exclusivamente em casos de clérigos católicos" quando estes constituem "uma minoria muito pequena”, e que procuram mostrar como "inacabáveis como em um favo de abelhas" os contados casos.

Depois de comentar alguns aspectos do caso Murphy nos Estados Unidos e como o então Cardeal Ratzinger não o encobriu mas que fez tudo o que devia fazer, o editorial assinala que "não acreditam que o New York Times ignorasse totalmente estes fatos. Daqui, vê-se a má fé e a tintura difamatória da campanha que se articulou contra a hierarquia do mundo católico".

"E isso se entende. O atual Pontífice, consistente com os princípios da Igreja Católica, desenvolveu uma resistência tenaz contra os propósitos divisórios, alentados por organizações seculares que procuram impor uma visão sexista e hedonista da sociedade, reduzindo o homem à sua natureza humana negando sua dimensão espiritual. Estas organizações obviamente não surgiram ‘espontaneamente’ nem vivem do ar… foram criadas e são apoiadas pelo berço de tais fundações filantrópicas como a família Rockefeller".

Os interesses financeiros, prossegue o texto, "destes, estão ligados a uma ampla fila de setores econômicos que vão desde os bancos, petróleo, fármacos, indústria militar, etc. até os meios áudio-visuais, que claramente cumprem uma agenda ditada pela elite global à qual pertencem".

Depois de advertir que esta mesma elite assinala que a "humanidade deve ser reduzida em um terço de sua população atual", o editorial explica que "existe uma clara intenção neste tipo de notícias que vai muito além do desejo de informar… se o mesmo fenômeno não fosse omitido em instituições similares".

Bento XVI não é responsável pelos abusos nem os encobre, diz Cardeal Sodano



.- Depois de sua expressão de solidariedade na manhã de Páscoa, o Decano do Colégio Cardinalício e Ex-secretário de estado, Cardeal Angelo Sodano, assinalou, ante a campanha mediática difamatória contra o Papa Bento XVI, que assim como não foi responsabilidade de Jesus a traição do Judas, tampouco é responsabilidade do Santo Padre os abusos cometidos por alguns clérigos, quem deve responder por eles.

Em entrevista concedida ao L’Osservatore Romano, o Cardeal Sodano explicou que "ante estes injustos ataques nos dizem que nos equivocamos na estratégia, que deveríamos atuar de outra forma. A Igreja tem seu estilo e não adota métodos que hoje são usados contra o Papa. A única estratégia que nós temos vem do Evangelho".

Ao comentar logo como vê a comunidade cristã, o Cardeal disse que "se sente justamente ferida quando se tenta culpá-la em bloco de feitos graves e dolorosos de alguns sacerdotes, transformando culpas e responsabilidades individuais em culpa coletiva com uma forma verdadeiramente incompreensível. Em minha intervenção não tenho feito outra coisa que lhe dar voz ao povo de Deus: ao Colégio Cardinalício, antes de tudo, que é um com o Romano Pontífice, mas também aos bispos e a todos os quatrocentos mil sacerdotes".

"Se algum ministro foi infiel não se pode e não se deve generalizar. Certo, nós o sofremos, e Bento XVI pediu perdão muitas vezes. Mas não é culpa de Cristo que Judas o traíra. Não é culpa de um bispo se um sacerdote se manchou com culpas graves. E certamente não é responsável o Pontífice", precisou.

Depois de comentar que a festa de Páscoa é uma ocasião propícia para ressaltar a unidade da Igreja, o Cardeal Sodano disse que "sinto um dever de reconhecer a Bento XVI sua dedicação apostólica com a qual dispõe seu serviço cotidiano à Igreja. Minhas palavras nasceram também de uma exigência pessoal, do afeto profundo que tenho pelo Vigário de Cristo".

Seguidamente o Decano do Colégio Cardinalício afirmou que sua intervenção "além de um testemunho de proximidade ao Papa, foi um convite à serenidade. É o chamado que o mesmo Papa, primeira e continuamente, dirige à Igreja e ao mundo, seguindo os seus grandes predecessores na cátedra de Pedro".

"Não nos assombremos das perseguições porque Jesus já havia dito a seus apóstolos que ‘um servo não é maior que seu amo. Se me perseguiram, eles também perseguirão vocês, se tiverem observado minha palavra, observarão também a sua’, como se lê no Evangelho segundo João", conclui.

Santa Sé: Caso de abuso na Noruega que envolve um ex-bispo não foi encoberto




.- O diretor do Escritório de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, explicou em uma declaração esta manhã que o caso de abuso cometido pelo Ex-bispo de Trondheim (Noruega), Dom Georg Mueller, tampouco foi encoberto e que a Congregação para a Doutrina da Fé confrontou e examinou este delicado assunto com rapidez.

Ao responder a um grupo de jornalistas algumas perguntas sobre este caso, o sacerdote jesuíta disse: "confirmo a informação recolhida no comunicado do administrador apostólico de Trondheim (Noruega), D. Markus Bernt Eidsvig, relativa ao ex-bispo de Trondheim, Dom Georg Mueller, SS.CC., que foi bispo-prelado da prelatura territorial entre 1997 e 2009".

Trata-se, explicou o Pe. Lombardi, "de um caso de abuso sexual de um menor a princípios dos anos 90, que chegou a conhecimento das autoridades eclesiásticas em janeiro de 2009. A questão foi confrontada e examinada com rapidez através da Nunciatura de Estocolmo por mandato da Congregação para a Doutrina da Fé".

Em maio de 2009, prosseguiu, "o bispo apresentou sua demissão, que foi oportunamente aceita pelo Santo Padre e em junho abandonou sua sede. Submeteu-se a um período de terapia e não desenvolve nenhuma atividade pastoral".

"Desde o ponto de vista da legislação civil o caso era prescrito; a vítima, na atualidade maior de idade, pediu sempre permanecer no anonimato", concluiu.

Campanha contra o Papa e a Igreja só procura vender, afirma escritor judeu



.- O poeta, escritor, colunista e ensaísta judeu Jon Juaristi, publicou no domingo de Ressurreição um artigo no jornal espanhol ABC no qual assinala que "não é necessário ser católico" para ver aonde aponta a campanha da mídia contra o Papa Bento XVI e a Igreja, que só procura vender e tirar os católicos da esfera pública.

Em seu artigo intitulado "Justiceiros", Juaristi assinala que "com o risco de resultar um pedante, volto sobre o tema de minhas colunas anteriores, porque a turba segue rugindo e muitos jornalistas e bloggers livres pretendem agora que o Papa apresente sua demissão. Uma hipotética demissão papal tem mais morbo para este tipo de pessoal, dito seja de passagem, que os próprios atos de pedofilia ou efebofilia cometidos por sacerdotes, que vão se revelando como puro pretexto para encurralar Bento XVI".

"E resulta que só o Papa e a Igreja tomaram a sério este assunto. Explorando o escândalo, a imprensa amarela só procura vender, e a ala progressista, tirar os católicos do espaço público, ou ao menos, se a campanha não desse para tanto, deixar a reputação do clero pelos chãos", prossegue.

Juaristi recorda logo que "se por acaso já não disse suficientes vezes, não sou católico, mas não me escapa a imensa talha moral do atual Pontífice em comparação com seus atuais e pululantes caluniadores, verdadeira massa de perseguição".

"Não é necessário ser católico para ver com claridade aonde conduz esta batida da mídia contra a Igreja, e, embora admita que a condição de judeu ajuda o seu a intuí-lo, acredito que basta entendendo que o justiceirismo supõe sempre uma corrupção do reto sentido da justiça. Este se eclipsou desde que Bento XVI fez pública sua carta aos católicos irlandeses".

Desde esse momento, denuncia Juaristi, "o alvo dos ataques já não constituem os sacerdotes pederastas e os bispos encobridores, mas o Papa, contra quem se mobilizou a ala liberal justiceira, tomando a carta em questão como um sintoma de debilidade, quando foi, claramente, uma demonstração de força moral que deixa em evidência a incapacidade flagrante do progressismo para levar adiante uma crítica análoga de suas próprias iniqüidades".

"Como neste caso não parece que vai funcionar o princípio de que, ferido o pastor, dispersar-se-ão as ovelhas, é previsível que a campanha aumente durante algum tempo e que a cena se encha –já está passando– de espontâneos que nos contem o que sofreram com o sacerdote pedófilo que lhes correspondeu", continua.

Finalmente o colunista judeu assinala que esta maneira de proceder "é o correlato obrigatório do justicierismo: a socialização da condição de vítima, a cultura da queixa. Mas a isto já têm acostumados. Que liberal progressista não tem um avô fuzilado por Franco, enterrado em ravina ignoto ou em sarjeta poeirenta? O mal é que, como passa sempre, a moeda falsa expulsa a boa do mercado e o justiceiro acabará por ocultar a dor das verdadeiras vítimas".

O Vendedor de Sonhos e o Massacre ao Papa

Por Paulo Oriente Franciulli

Retirado de: www.negociosdefamilia.com.br


Dá para imaginar o Vendedor de Sonhos sendo apedrejado depois do seu mea culpa no estádio? Não. E se fosse o Papa? Sem dúvida que sim. Por quê? Ora, a única opção que pode ser livremente agredida hoje é a de ser católico praticante. As baleias e os tigres são mais protegidos. Como na Roma Imperial.



Semanas atrás, enquanto esperava uma pessoa que está por cima de coisas triviais como a pontualidade, reparei que não trouxera nada para ler. Antes de desesperar-me, olhei ao redor. Havia poucas opções: uma revista sobre moda, um guia turístico da Grécia e o livro “O vendedor de sonhos”, do Augusto Cury.

Peguei este último e li até o fim (a pessoa esperada chegou alguns minutos depois). Confesso que, num primeiro momento, não tive o impacto semelhante ao causado pela leitura de obras como Ilíada, Crime e Castigo, Till we have faces ou a Trilogia da Fronteira do McCarthy. Também foi lamentável a minha fraqueza de interromper a leitura algumas vezes para namorar o guia da Grécia. Porém, o fato é que a curiosa figura criada por Augusto Cury voltou-me à cabeça hoje, precisamente no momento em que decidi não ler mais nada sobre a questão da pedofilia na Igreja Católica. A insistência com que o tema tem sido tratado e a natureza de ataque furioso organizado contra o Papa levaram-me à beira da exaustão.

Reparem bem: eu disse ler, não escrever. Então, prossigo.

Eis a cena do livro que surgiu na minha mente: lá pelas tantas, o Vendedor de Sonhos foi convidado a uma homenagem prestada pelos “poderosos do sistema”, que na verdade estavam insatisfeitos com a sua pregação e queriam destruí-lo. Ele resistiu, prevendo o que iria ocorrer. Mas foi conduzido quase à força pelos seus ingênuos seguidores a um estádio lotado, e assistiu à exibição de cenas da sua vida. Por sinal, cenas nada meritórias, já que ele aparecia num hospício, expondo toda a sua insanidade, berrando e babando, os olhos injetados de loucura (assumo estas últimas descrições; acho que não estão no livro). Os organizadores-detratores ficaram felicíssimos. Os assistentes, perplexos (a popularidade do Vendedor era muito alta). O atacado, sereno e silencioso.

Depois de muito pedir, conseguiram que ele falasse algo. E ele falou. Disse que tudo aquilo era verdade; explicou o seu sentimento de culpa pela morte da família; expôs o desejo de reparar; pediu perdão a Deus e ao mundo. E foi embora. O efeito, como tudo no livro, foi manejado pelo autor em favor do seu heroi, que saiu engrandecido do cenário da sua própria destruição social. Algo como um condenado à forca ser coroado rei no próprio patíbulo.

Pois bem, a vida do lado de fora dos livros de autoajuda não é assim. O estádio da difamação e da calúnia dura meses e meses. As cenas degradantes são exibidas à saciedade, de todos os ângulos possíveis. A massa grita enfurecida. Não adianta pedir perdão. É inútil tomar medidas corretivas. Qualquer tentativa de defesa é distorcida e voltada contra o alvo da ira predatória, em forma de novas agressões.

Aí entra o Papa. Penso que a analogia e a conclusão estão claras, e limito-me a acrescentar que o Papa, para uma parcela considerável dos habitantes do planeta, não é um Vendedor de Sonhos, mas o Vice-Cristo na terra. Merece respeito. Ademais, não é um homem qualquer. Raras inteligências como a sua ilustraram-nos de São Tomás de Aquino para cá. A sua carta aos católicos da Irlanda é um monumento de humanidade e misericórdia. Requer, ao menos, silêncio.

Dá para imaginar o Vendedor de Sonhos sendo apedrejado depois do seu mea culpa no estádio? Não. E se fosse o Papa? Sem dúvida que sim. Por quê? Ora, a única opção que pode ser livremente agredida hoje é a de ser católico praticante. As baleias e os tigres são mais protegidos. Como na Roma Imperial.